A não-linearidade de um povo paralelizada com a não-linearidade do próprio Tempo. Presente, Passado e Futuro da Trafaria, enquanto ponto ressuscitado, enquanto Terra em evolução, tecnológica, avançada, criativa, ávida, que se recusa a desvirtuar das suas memórias, da sua história e da sua personalidade ímpar.
O retrato genuíno e honesto, conceptualmente desconstruído e artisticamente regurgitado, de uma Trafaria simultaneamente antiga e nova, simultaneamente pequena e extensa, simultaneamente esquecida e lembrada.
Lembrada não apenas por quem as suas histórias conta, mas sempre por quem pela primeira vez a sua calçada pisa, e por quem atravessa o rio para a conhecer.
Ninguém conta a história de um povo e de uma localidade melhor que as suas Mulheres. Através das palavras descomandadas e desprovidas de guião, partilhadas pelas Mulheres da Trafaria - nesta década de 20’ do séc. XXI que estamos agora a atravessar -, “Nossa terra é uma mulher” imortaliza a fervura, a beleza, os desamores, as projeções, as lágrimas, a cultura, a comida, as cores, a praia, o rio, a coragem e a gentileza locais, posteriormente passadas pelo olhar da artista, desde raiz estruturado a partir da sua abordagem tecnológica, intimamente ligado à sua geração, unilateralmente congregando diferentes intenções e padrões, passando-os por uma lupa imprevisível, disruptiva e bela.
Nas suas particularidades, idades, nacionalidades, experiências de vida, trejeitos e até religiões, é na diferença que compreendemos o que nos une - de forma não linear, não ponteada, fluindo entre vários mundos e estados temporais. Tal como Passado, Presente e Futuro, que não se movem através do Tempo em linha reta, também na Trafaria encontramos esta não-linearidade nas suas gentes, nas suas Mulheres, no seu olhar direito a Lisboa.
Este projeto materializa-se através de um cruzamento disciplinar entre sonoplastia, técnica de Field recordings, vídeo e artes visuais digitais, através de recurso a softwares de edição de imagem e de áudio, com utilização de instrumentos musicais analógicos e equipamentos tecnológicos, resultando num formato algures entre o cinema experimental e a instalação interativa que convida o observador a fazer parte do processo criativo, e a com o mesmo se relacionar.
Estruturado em conjunto com a Trafaria Criativa através de mútua contaminação e troca de ideias, foi utilizada como base a própria Comunidade residente na Trafaria. O resultado final é “devolvido” às suas gentes, para que possam nele rever-se, com ele interagir, e através dele, refletir sobre os símbolos identitários e patrimoniais intangíveis locais, valorizando-os e relacionando-os com o avanço tecnológico.
É performance? É Cinema? É sonoplastia? É instalação? É Música? Poderá ser de tudo um pouco, desde que se mantenha tão genuíno quanto nós.
Artista, Produtora, Curadora, Gestora cultural, Portuguesa, mulher, moradora na Trafaria. Com mais de 14 anos de experiência na Produção de eventos de cariz artístico, Gestão Cultural e Curadoria, desde 2022 que Sara Wual Barros se dedica ao desenvolvimento de trabalho criativo no cruzamento multidisciplinar entre Música, Arte Visual, Poesia, Sonoplastia e Tecnologia.
Da experimentaçāo através da Música Eletrónica analógica, às exposições de Arte Contemporânea e até Cinema, o seu percurso e é marcado pela diversidade de mediums, de formas de expressão, de âmbitos de estudo e de métodos de trabalho, sempre movidos por uma reflexão atenta, escrutinada e atual sobre os temas sociais que espelham os tempos que correm.
As suas estéticas visam despertar no público um profundo respeito, reconhecimento e homenagem às origens underground da música, bem como das artes visuais, aliado a uma abordagem holística e consciente dos atuais acontecimentos no Mundo. O seu trabalho de pesquisa e processos criativos têm como objetivos empoderar, representar e criar espaços seguros para comunidades pertencentes a minorias sub-representadas, bem como, simultaneamente, incentivar a ação climática e a justiça social. Passado, Presente e Futuro estão sempre presentes no seu trabalho, independentemente dos mediums utilizados.
A sua abordagem para com a Arte e a criação artística combinam um olhar disruptivo e imaginativo, numa constante busca pelo Belo e o efémero, recorrendo a uma postura maleável e realista que nunca se desvincula do palpável, nem da Sociedade em si.